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Foto do escritorArtur Monteiro

Viagens e o senso de liberdade

Para além do ato de deslocar-se em busca de conhecimento, satisfação e beleza, o que é a viagem. O que é o viajar? Minha intenção aqui é divagar de um ponto de vista bem pessoal, que parte de minha estrada e o sentido dela na minha vida.



Desde pequeno sempre gostei de pequenas aventuras, subir no telhado de casa, das casas dos vizinhos, árvores... De ver o que havia atrás da última pedra da praia, de nadar até aquela ilha perto da costa, de subir um pouco mais o rio e descobrir onde levavam suas curvas. Eles sempre desaguam no mar, mas aqui o que importa é seu trajeto.


De todas minhas viagens, curtas ou um pouco mais longas, sempre levei a impressão de serem pequenos resumos de minha vida. No fundo na estrada você sempre é o seu limite e realiza aquilo que você foi capaz de realizar. Capaz tanto pelos recursos que possuía, como pelas limitações auto-impostas ou mesmo infelicidades vividas ou limitações de percurso. Fatores diversos com você e suas experiências no meio. No final das contas, você saiu de seu ponto original, foi a um certo destino, acompanhado ou não de quem você queria, teve as experiências desdobradas como possível, viveu e voltou.


Que exemplo melhor da vida como um todo do que uma simples ida à praia. Ou mesmo a um bar com seus amigos. Da distância entre as possiblidades e o realizado. Sempre que deixei de fazer ou de me ver sendo algo em ocasiões da vida, me via numa viagem, cansado, ou indisposto, ou simplesmente não querente de algo. E tudo bem. Vejo viagens, conquistas e perdas como mais ou menos pequenos termômetros nos quais se é possível calibrar os aparelhos e reavaliar rotas.


Num outro extremo dessa régua, lanço a Makaxera, depois de ter descoberto que já não sei distinguir muito bem os limites entre a vida e o que seriam as viagens que faço nela. Ou se seria a vida mesmo uma grande viagem, depois da qual voltarei à casa?


Saí da casa dos meus pais, à dez anos. E desde lá já morei em dezenas de casas, sob diversos formatos, em muitos estados do Brasil e em alguns países diferentes. Me foi concedida a oportunidade, à qual abracei com força, de explorar alguns pontos do mundo e seguir vendo onde as curvas levavam. Ao longo desses anos foram Caxias do Sul, Frankfurt, Rio de Janeiro, Londres, São Paulo, Manaus, Luanda, Bonn, Potsdam, Berlin e hoje, no momento que escrevo esse texto, estou no interior da Itália, numa pequena cidade chamada Tuoro. À exceção da última, todas as anteriores foram locais que mais ou menos acreditei por certo tempo chegaria a desenvolver minha vida nelas. Que ficaria.


Abri empresas, me apaixonei, fiz sites, tive alguns empregos que me permitiram diferentes experiências, fui casado, me encontrei, me entreguei e fugi diversas vezes, em busca não sei do que. Em busca de reconhecimento talvez, de algo que me desse sentido na vida, que me desse a chancela de ser útil ao mundo em seus dias agonizantes. De sempre levar e ser algo, buscava uma resposta em muitas esquinas. Mas foi em Berlin que eu reparei que a viagem e minha vida já não mais se distanciavam, que o mundo que vivemos já permite que ambas sigam juntas e que podemos viver na estrada e seguindo o coração para explorá-lo e assim nos explorar.


Hoje por aqui a vida e a estrada são sinônimos e quero muito compartilhar isso.

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