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Rio Doce deságua em Berlin.


05 de novembro de 2021. Já rememorávamos pela sexta vez o aterrador evento da tragédia-crime de Mariana ocorrida no mesmo dia de 2015 na qual 19 pessoas morreram, diversas cidades foram destruídas e o rio Doce completamente contaminado. Especialistas calculam que sua recuperação, caso ocorra, tardará décadas, se não séculos. Relembrar e evidenciar tal tragédia é parte essencial do ativismo e do trabalho da construção conjunta de um futuro melhor. Nesse mesmo dia tive a oportunidade de, junto com meu amigo Vladimir Ospina e diversos amigos, realizar o lançamento de nosso livro “Traços de um rio : Caderno de viagem” em Berlin. Tudo com apoio d’A Livraria, livraria especializada em títulos em Português, Espanhol e Italiano, gerida pelos caros Edney Pereira e Catia Russo.


Já havia se passado seis anos do acidente e mais de cinco da data que realmente finalizamos o livro, contudo devido aos ventos da vida cada pessoa que fez parte do projeto já estava em outras paragens. Eu em Manaus, Vladimir em Paris e outros amigos que fizeram parte do projeto entre Niterói, Rio de Janeiro e Cuba. Tocar o projeto de uma realidade, fisicamente, distante parecia se sobrepor às dinâmicas diárias de onde minhas preocupações se colocavam. Naquele momento específico para mim, na Amazônia.


Com a pandemia já correndo à quase dois anos e diversos pensamentos em locais renovados, eu refletia constantemente sobre o papel das minhas escolhas um fato principal emergia de tudo isso. Minha responsabilidade. Responsabilidade essa sobre o que andava fazendo, como vivia e principalmente sobre minhas causas, crenças, afetos e futuros. De certa forma reparei que havia um filho meu ainda não nascido que estava esperando há anos espaço para rodar o mundo e contar suas próprias histórias.


Dentro da lógica que não percebia em meus hábitos, o abandono se fazia presente sobremaneira. Abandono de realidades que não me agradavam, empregos, projetos e qualquer processo que envolvesse maior dificuldade. Qualquer responsabilidade. Diante desse processo e impulsionado pela pandemia tomei contato com minha necessidade maior de tocar o lançamento do livro e realmente fazê-lo visível a uma maior audiência. Com isso também, agradecer e ser grato ao processo como um todo que me formou enquanto pessoa.


O lançamento foi um sucesso e certamente um dos momentos da minha vida no qual estive mais contente e me vi realizado. Feliz por: ter realizado ele com ele apoio do instituto no qual trabalhava o IASS (Intitute for Advanced Sustainability Studies) e da Fundação Gwärtler que apoiou meu trabalho como um todo; ter contado com o apoio e ajuda de meu amigo Vladimir e com a presença de diversos amigos. Tivemos sala cheia no dia e mais de 200 pessoas assistindo on-line, perguntas, conversas e um clima de felicidade ao qual eu sou muito grato. Fiquei contente por poder representar tantos atingidos numa noite fria de Berlin e de poder apresentar o livro que conta a história de todos nós, brasileiros, na minha língua. Conversei no dia com alguns dos atingidos que são retratados no livro e estivemos presentes - todos juntos. Eles em Berlin e nós, todos, no rio Doce. O apoio deles foi fundamental para que nos sentíssemos em conjunto trabalhando pela sua regeneração. Além disso contamos com divulgação do evento em canais de comunicação alemães como a revista Tópicos (matéria: Mit einem gemeinsamen Ziel - "Com um objetivo comum").


Somos todos rio Doce.

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