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Foto do escritorArtur Monteiro

Por que o desenho?



Uma vez eu fiz uma viagem de moto. Foram quase três meses pelo interior do Brasil, principalmente Minas Gerais, Bahia e Espírito Santo. Sabia que no final da viagem voltaria para o mesmo ponto de saída, minha casa, contudo a viagem a prática diária do ir, do se escolher e do arcar responsavelmente pelas consequências delas. Nas viagens é comum parar para avaliar a rota e entender os próximas paradas.


O mapa é aberto. Suas distâncias medidas em horas e quilômetros. Rotas redefinidas. O tempo restante pesado. Com a informação em mãos, podemos alinhar expectativas da nossa cabeça, com a coragem da barriga e a vontades do coração e, assim, decidir para onde e como seguir.


Em alguns momentos da minha vida parei e abri o mapa de como eu tocava minha moto. Sobre os comos e os porquês. Alguém me vendeu um mapa a um preço caro e ainda teve a pachorra de dizer que o tempo era curto. Via esse mapa junto com minha bússola empoeirada e via como encaixar uma coisa na outra. De sentir no coração mesmo, indiferente do mapa, para onde a bússola aponta, a de dentro.



Nesse oriente-se, de onde vem o sol?



Considero essa minha viagem um ponto de partida importante nesse sentido. Pelo fato não apenas da dúvida latente sobre o próximo passo, do tesão pela vida, por uma certa vontade de renascimento latente no peito e de uma maneira bem central por causa do desenho. Desenhei ela toda, de começo a fim, fiz mais de 100 ilustrações e cheguei a escrever um diário de minhas experiências. Nesse momento na verdade acho que fui escolhido pelo desenho, lembro até do momento no dia 13 de junho de 2015.


Estava viajando a vários dias já e fui à um local mágico para mim. Considero um portal para o centro da história do Brasil e de nossa ocupação sobre o território. Congonhas dos Campos e a igreja de Bom Jesus de Matosinhos com os Profetas do professor aleijadinho. Fiquei lá três dias tentando desenhar e retratar o visto e o não visto. Manifestar o não manifesto. Trabalhei com minha cabeça por alguns momentos, fiz estudos e esboços de como queria o desenho mas não saía.


Até o certo momento que acalmei a mente, me conectei com o espaço e considero ter feito meu primeiro desenho consciente. Dizem que desenhar mais do que saber sobre os traços, é um exercício de ver. Nesse dia me vi, enfim, vendo algo.


Essa sensação foi e voltou diversas vezes, mas a mudinha já estava saindo da terra. Se esse desenho de cima é a folha saindo da terra, há um que considero a própria semente, um mapa realmente para mim mesmo que as vezes visito e gostaria de compartilhar. Poucos meses após sair da casa de meus pais, senti um vazio muito grande de práticas que me levassem à mim mesmo - comprei um caderno, lápis de cor e me permiti expressar o que vinha de dentro. Ideias, imagens, sensações.


Hoje, olhando para trás, acho difícil trabalhar abstratos, mas essa imagem me vem sempre como o início. Não desenhava há mais de dez anos, e esses traços me deram coragem de tentar e de brincar um pouco por aqui. Pelo fato de ter sido algo cru, ainda olho para ele tentando encontrar algo meu que ainda não sei.


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